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terça-feira, 5 de março de 2013

A menina dos fósforos (Monteiro Lobato)

Isto foi num desses países onde a neve cai durante o tempo de inverno – e fazia um horrível frio naquela noite do ano. Dentro do frio e dentro do escuro da noite a menina lá seguia, de pés descalços pela cidade deserta. Descalça? Sim. É verdade que saíra de casa com um par de chinelas muito grandes para seus pés, pois tinham sido de sua mãe. Ao atravessar a rua, porém, teve de correr para desviar-se duma carruagem na disparada, e perdeu as chinelas; quando voltou para procurá-las, viu que um moleque havia apanhado um pé, saindo a correr com ele na mão. “Vou fazer um berço desta chinela!”, dizia ele. O outro pé não foi possível encontrar - com certeza sumiu enterrado na neve pelas patas dos cavalos. Por isso lá ia a menina de pés nus e já azuis de frio. Era uma vendedeira de fósforos, do tempo em que os fósforos se vendiam soltos e não em caixa; no avental trazia uma porção deles e na mão um punhadinho. Mas ninguém lhe comprara ainda um só, e lá se ia ela, tiritando de frio, sem um vintém no bolso. Verdadeiro retrato da miséria, a coitadinha! Flocos de neve recobriam seus cabelos cor de ouro, todos cacheados, sem que a menina desse por isso. Em muitas casas a luz do interior saía pelas janelas misturada com um saboroso cheiro de ganso assado – porque era dia de S. Silvestre, dia em que todos que podem comem um ganso assado. Em certo ponto a menina sentou-se encolhidinha rente a uma parede e cruzou os pés debaixo da saia. Nada adiantou. Sentiu-se mais enregelados ainda. Como não tivesse vendido nenhum fósforo não se animava a voltar para casa. Sem dinheiro no bolso estava proibida de aparecer lá. Seu pai com certeza que a surraria – além disso o frio era lá tanto como ali. Uma casa velha, de teto esburacado e paredes rachadas por onde o vento entrava zunindo. Suas mãozinhas começaram a perder os movimentos. Teve uma ideia: acender um daqueles fósforos para aquecer os dedos entanguidos. Assim fez. Riscou um fósforo na parede – chit! Que luz bonita e que agradável quentura! O fósforo queimava qual velinha, com a chama defendida do vento pela sua mão em concha. Que bom! A menina sentia como se estivesse sentada diante dum grande fogão, com ferro para mexer as brasas e uma caixa de lenha ao lado. Tão agradável aquele calorzinho do fósforo, que ela espichou o pé para que também aproveitasse um pouco- mas nisto a chama foi morrendo e afinal apagou-se. Só ficou em sua mão um toquinho carbonizado. A menina riscou outro fósforo, e à luz dele a parede da casa estava encostada tornou-se transparente como um véu, deixando ver tudo se passava lá dentro. Estava posta uma grande mesa, com toalha alvíssima e prataria de porcelana; no centro, um ganso recheado de maçãs e ameixas, que recendia um perfume delicioso. De repente o ganso ergueu-se da travessa e, ainda com a faca e o garfo de trinchar espetados no papo, veio na direção dela. Nisto o fósforo apagou-se e tudo desapareceu. A menina riscou outro fósforo, e imediatamente se achou sentada debaixo da mais bela árvore de ponta dos galhos, e os enfeites dependurados pareciam olhar para ela. Mas esse fósforo também foi se apagando, e à medida que ia se apagando a árvore de Natal ia crescendo, e as velinhas subindo até ficarem como estrelas no céu. Uma delas caiu, traçando um longo risco de luz. - Alguém está morrendo, pensou a menina com a ideia em sua avó. A boa velinha fora a única pessoa na vida que lhe dera amor, e costumava dizer que quando uma estrela cai é sinal de que alguém está morrendo e com a alma a ir para o céu. A menina acendeu outro fósforo – e desta vez o que apareceu foi sua própria vovó, brilhante como um espírito e com o mesmo olhar meigo de sempre. - Vovó! Exclamou ela. Leve-me consigo! Eu sei que a senhora vai sumir-se quando este fósforo chegar ao fim, como aconteceu com o ganso recheado e a linda árvore de Natal... E para que isso não acontecesse, a menina tratou de acender um fósforo atrás do outro, sem esperar que a chama morresse. Era o meio de conservar a vovó perto de si. E os fósforos foram ardendo com luz brilhante como a do dia, e sua vovó nunca lhe apareceu tão bela, nem tão grande. Foi-se chegando, tomou e netinha nos braços e com ela voou, radiante, para onde não há neve, nem frio mortal, nem fome, nem cuidados – para o céu. No outro dia encontraram o corpo da menina entanguido na calçada, com as faces roxas e um sorriso feliz nos lábios. Havia morrido de fome e frio na última noite daquele dezembro. O sol do novo ano veio brincar sobre o pequenino cadáver. Em sua mãozinha rígida estavam ainda os fósforos que não tivera tempo de acender. Os passantes olhavam e diziam: “A coitada procurou aquecer-se com os fósforos”, mas ninguém suspeitou as lindas coisas que ela viu, nem o deslumbramento com que começou o ano novo em companhia de sua avó.


COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO
1. Era o último dia do ano, dia de São Silvestre, a neve caía e a cidade estava deserta.
a) O que a protagonista fazia?
b) Ela estava vestida adequadamente para a situação? Justifique sua resposta.
c) Por que a vendedora de fósforos não quis voltar para casa?

2. Nos contos maravilhosos, os vilões são gigantes, ogros, lobos, bruxas, etc., seres criados pela imaginação popular. Em "A menina dos fósforos":
a) Quem é o vilão?
b) Na sua opinião, esse vilão é mais cruel que os vilões que normalmente aparecem nos contos maravilhosos? Justifique sua resposta.

3. Num determinado momento da história, o narrador diz que as mãos da menina "começaram a perder os movimentos". O que isso significa?

4. À medida que a menina acende os fósforos, nós, leitores, partilhamos de suas visões e de seus desejos. Qual das visões relaciona-se:
a) ao calor?
b) à beleza?
c) ao alimento?
d) à afeição?

5. Há, no conto, dois momentos em que se observa a compaixão humana. Quem faz no conto os seguintes comentários?
a) "Verdadeiro retrato da miséria, a coitadinha!"
b) "A coitada procurou aquecer-se com os fósforos".

6. Muitos contos maravilhosos surgiram na Idade Média, na Europa, numa época em que havia muita miséria.
a) O conto lido retrata essa situação social? Justifique sua resposta.
b) Você conhece outros contos maravilhosos em que crianças têm de enfrentar o abandona, a fome e a injustiça social, como a vendedora de fósforos? Se sim, quais?

7. Nos contos maravilhosos, heróis e heroínas costumam vencer os obstáculos e triunfar no final. Na sua opinião, a vendedora de fósforos triunfa no final? Justifique sua resposta.

FONTE: PORTUGUÊS LINGUAGENS, autores: Willian Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães

16 comentários:

  1. Consegui responder todas as questões, o que me deixou em dúvida foi essa:

    2. Nos contos maravilhosos, os vilões são gigantes, ogros, lobos, bruxas, etc., seres criados pela imaginação popular. Em "A menina dos fósforos":
    a) Quem é o vilão?
    b) Na sua opinião, esse vilão é mais cruel que os vilões que normalmente aparecem nos contos maravilhosos? Justifique sua resposta.

    Bem, o vilão pode ser o pai que não quer deixar a menina voltar pra casa sem dinheiro, se voltasse iria apanhar...
    Mas o texto também cita que a casa era velha, de teto esburacado e paredes rachadas por onde o vento entrava zunindo. Ou seja, ele mandou a filha vender fósforos pra ajudar na casa...
    O vilão também pode ser as pessoas ao redor da menina que via ela descalça, tiritando, e não faziam nada pra ajudar... E agora?? Quem é o vilão??

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  2. Olá Isaque, obrigada por sua participação no blog, fico muito feliz! Bem, é claro que as pessoas que passavam e deixavam de ajudar a menina também são vilãs, porém ela não estaria naquela situação se o próprio pai não tivesse forçado a pequena a estar ali, portanto a resposta da questão A é que o vilão é o pai, e a resposta da questão B é que sim, este vilão é mais cruel, pois espera-se que um pai ame, cuide e proteja os filhos e não os exponha em situação de risco.

    Espero continuar contando com sua presença por aqui!!
    Abraços

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  3. Opa, obrigado por responder, professora. Eu que fico feliz por alguém ter me ajudado. Tipo, eu estava meio que com dúvida especificamente nessa questão, as pessoas viram a menina tiritando, descalça, morrendo de frio... e ninguém fez nada pra ajudar. Só depois que ela morreu que comentaram: "A coitada procurou aquecer-se com os fósforos"... Olha só como são as coisas, não? Então, no texto é citado: "Uma casa velha, de teto esburacado e paredes rachadas por onde o vento entrava zunindo. " ou seja, significa que o paí da menina também não tinha condições, era muito pobre. As vezes, sei lá, no desespero por conseguir dinheiro, mandou a filha ir vender fósforos... Não vi o pai da pequena menina como vilão no principio acho que por relacionar-se a algumas coisas que presenciei. Aconteceu algo com minha família, ações erroneas do meu pai que me prejudicou bastante pessoalmente, ainda mais na escola. Por isso estou tentando ser "auto-didata", até porque a escola que eu estudo os professores não são igual você que tem interesse em ensinar, dedica o pouco do tempo pra ensinar e gosta realmente do que faz... Aqui pra eles é passar um desenho, umas contas de adição e pronto. Entendo a parte deles, sim, tem um justificativa, eles se desanimam por causa da bagunça dos alunos, sem contar que a direção da escola não faz nada a respeito. E 3 ou 4 alunos que querem realmente aprender, saem prejudicados nessa situação. Admito, também fazia bagunça, então os professores já me conhecem, acho que por isso não estão interessados em me ajudar! Por isso estou me esforçando pra aprender sozinho, que também é bem divertido... Inclusive, tenho a coleção do "PORTUGUÊS LINGUAGENS" do 6º ao 9º ano, a escola jogou fora e eu peguei pra mim. Olha só, que bom! Eu comecei a ver o livro 6º ano deles dia 6 desse mês, e dia 5 você já publicou isso, pesquisei no google a minha dúvida, econtrei esse blog e jamais iria imaginar que você responderia, acredite, fiquei muito feliz por você responder, apesar de eu me destacar mais pela área de informática que é especificamente "Ciências da computação" eu gostaria de ser professor, acho uma profissão espetacular, sem desmerecer as outras profissões, que óbvio, cada uma contrubui para nossa sociedade, mas ser professor é incrível! Obrigado, Professora! Muito obrigado mesmo! :-)

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    1. Isaque que bom que você teve tempo de reconhecer a importância dos estudos na vida!! Parabéns pela sua iniciativa de tentar recuperar o tempo perdido, buscando, sozinho, adquirir conhecimento. Mas, saiba que estou a disposição, sou professora de Língua Portuguesa e Inglesa, se precisar tirar alguma dúvida pode entrar em contato que tentarei te ajudar sempre que possível!! keithyrubia@hotmail.com ou pelo facebook Keithy Rubia (Alto Piquiri)...

      Abraços.

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  4. Oi amore!
    Estou convidando para um sorteio especial de amigos no meu blog.
    Espero sua inscrição.
    Beijos.

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  5. Olá professora, comento aqui para dizer que este texto é do Hans Christian Andersen e não do Lobato. Obrigado!

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  6. Alguem tem todas as respostas desse questões ai me passem agradeço se for respondido obrigado

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  7. Gente eu tô precisando de ajuda nessas perguntas q eu n entediiiii

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  8. Alguém pode me ajudar na 4, não entendi como é para fazer. Alguém que saiba pode me ajudar?

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  9. Quais são as respostas? Pode me mandar no gmail?!

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